Domingo de afirmação da resistência negra em Contagem

Houve festejos na comunidade que começaram ainda antes de o sol nascer, desfiles que percorreram o trajeto entre a Casa de Cultura Nair Mendes e a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário – Foto: Ricardo Lima

Para marcar os 130 anos da abolição da escravatura, celebrados no dia 13 de maio, a Comunidade dos Arturos, quilombola situado no bairro Jardim Vera Cruz, no centro de Contagem, promoveu, com o apoio da Prefeitura de Contagem, uma programação diversificada ao longo de todo o domingo.

Houve festejos na comunidade que começaram ainda antes de o sol nascer, desfiles que percorreram o trajeto entre a Casa de Cultura Nair Mendes e a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, encontro de cerca de 20 guardas de congada convidadas na Matriz do Rosário, com ato público, encenação teatral sobra a abolição com o grupo “Arturos Filhos de Zambi” e missa Conga, e o retorno em cortejo da Matriz do Rosário até a Comunidade dos Arturos.

Mais do que celebrar uma tradição de valorização da cultura afro-brasileira em uma festa que já acontece há mais de 40 anos, a data assinala a importância da luta em favor dos direitos das populações negras.

Representando o prefeito Alex de Freitas e o vice William Barreiro, o secretário de Direitos Humanos e Cidadania, Marcelo Lino, participou da mesa de abertura da programação na Matriz do Rosário. Ele enfatiza a relevância da existência dos Arturos para o município e da afirmação do caráter de luta em torno da data. “É um orgulho para nós termos um quilombola reconhecido nacionalmente. É importante celebrar a data, mas é também preciso desmistificá-la. O 13 de maio foi o marco de uma luta de 300 anos antes, com resistência feita debaixo da chibata e de muito sangue. É preciso reconhecer a enorme dívida que a população brasileira tem com os afrodescendentes”, disse o secretário.

O superintendente municipal de Promoção de Igualdade Racial, Jorge Antônio dos Santos, também presente à mesa de abertura, ressaltou a importância da valorização desse tipo de celebração e da afirmação da necessidade de defesa de direitos aos afrodescendentes. “Sou também membro da comunidade dos Arturos e fazemos essa celebração há mais de 40 anos. A comunidade é uma das poucas que mantém vivas tradições afro-brasileiras. O povo negro ainda luta pela igualdade racial e social e pela liberdade substantiva. Há leis que buscam reparar esses danos, mas ainda é preciso avançar mais. Viver e ser negro é lutar e resistir”, afirma o superintendente.

Prestígio reconhecido

Erika Januza

Pessoas de grande relevância para o movimento negro também marcaram presença na mesa de abertura, como o especialista em cultura afro-brasileira e religiões de matrizes africanas Erivlado Pereira dos Santos, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), a especialista em línguas africanas Ieda Pessoa de Castro, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o presidente da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Contagem, Marcos Eustáquio dos Santos, rainhas e reis de guardas de Congo e Moçambique, autoridades e políticos ligados à defesa das minorias e até a atriz Erika Januza, que interpretou a juíza Raquel na novela global “O outro lado do paraíso”, trama que chegou ao fim na sexta-feira passada.

A atriz fez questão de ressaltar o orgulho que tem ao deixar claro que vem de Contagem e reafirmou a importância da valorização negra: “A Comunidade dos Arturos é conhecida nacionalmente. No processo de preparação para o personagem, perguntaram-me se eu já tinha ouvido falar dos Arturos, porque a história da comunidade era importante no meu processo de composição do personagem. Eu faço questão de dizer que sou de Contagem. Tenho muitos parentes nos Arturos, tenho muito orgulho da cidade e das pessoas daqui. Estou muito feliz em poder participar dessa celebração de hoje e acho que temos de vivê-la todos os dias. Temos menos oportunidades, muitas vezes a polícia nos aborda só por causa da nossa cor. Por causa da cor da nossa pele, somos subjugados todos os dias. Seja o pedreiro a dona de casa ou a atriz: não é fácil! Tudo o que nossos antepassados passaram foi por nós, que estamos hoje, aqui. Representatividade importa”, cravou a atriz, emocionada.

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