Quem paga a conta?

Quem já acompanhou várias Copas do Mundo há de concordar que a população está um pouco desanimada. Algumas Copas atrás, a uma semana do início do campeonato, as cidades mudavam de aparência com a decoração de ruas, realizada pelos próprios moradores. Hoje, essas iniciativas ainda existem, mas com ânimo muito menor que em ocasiões anteriores. Nesta altura do campeonato, nas disputas anteriores, todo mundo cantarolava uma música especialmente feita para a seleção e tocada à exaustão por todo o país. Queda de prestígio do futebol? Difícil dizer. Fato é que embora seja um dos maiores eventos esportivos do planeta, somente os aficionados sabem hoje a escalação completa da seleção de Tite. A “pátria de chuteiras” de outros tempos dá lugar a torcedores mais comedidos, menos fanáticos, embora essa situação possa mudar quando a bola começar a rolar no gramado.

O comércio, felizmente, depois de passar maus momentos durante a greve no transporte de carga, vem registrando vendas maiores, principalmente de produtos específicos para as comemorações das competições esportivas. E a indústria eletrônica também tem registrado aumento na comercialização de televisores, a grande janela para o campeonato mundial desde que o evento passou a ser televisionado.

Embora o esporte aparentemente não entusiasme tanto os brasileiros, não impediu que prefeituras, câmaras municipais, ministérios, governos estaduais e Congresso Nacional criassem calendário próprio para que seus servidores possam, quando os jogos ocorrerem durante a semana, assistir às partidas no conforto do lar ou reunidos com os amigos. Aqui em Contagem, o Fórum, as agências bancárias, repartições públicas da Justiça do Trabalho e Federal terão horário diferenciado durante os jogos da seleção brasileira. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais definiu como vai ser o atendimento ao público, na Secretaria do Tribunal de Justiça e nos órgãos auxiliares da Justiça de primeiro grau de  todas as comarcas de Minas Gerais: Na partida do dia 22 de junho (sexta-feira), com jogo às 9h (horário de Brasília), o expediente será das 13h30 às 19h. Na partida do dia 27 de junho (quarta-feira), com jogo às 15h (horário de Brasília), o expediente será das 8h às 13h30. Quanto aos prazos que vencerem nos dias dos jogos, eles serão prorrogados para o primeiro dia útil seguinte.

O prefeito municipal de Contagem, através do Decreto nº 536, de 8 de junho de 2018, estabeleceu os critérios de funcionamento dos órgãos e entidades do Poder Executivo Municipal: Nos dias úteis em que estão previstos os jogos da seleção brasileira, o expediente dos órgãos e entidades da Administração Pública Municipal direta, autárquica e fundacional dar-se-á do seguinte horário: no dia 22 de junho de 2018: das 13h00 às 18h00; e no dia 27 de junho de 2018: das 8h00 às 13h00.

Em caso de classificação para as etapas subsequentes, o expediente será:  das 14h00 às 18h00, nos dias úteis em que houver jogos da seleção brasileira de futebol às 11h00; das 8h00 às 13h00, nos dias úteis em que houver jogos da seleção brasileira de futebol às 15h00.

A menos de cinco meses das eleições, quando além de governadores e presidente o eleitor escolherá os deputados e parte dos senadores, o pleito não assusta os congressistas que terão horário especial durante as partidas, extensivo a todos os funcionários da Casa. No Senado, por exemplo, a jornada de trabalho será iniciada às 14h nos dias em que os jogos da seleção forem realizados pela manhã. Quando a partida ocorrer à tarde, o expediente termina às 13h. Como é de costume, os parlamentares têm um expediente mais que flexível tanto no Senado como na Câmara, que geralmente começa na terça-feira e termina na quinta. Eventos sazonais como festas juninas em seus estados de origem costumam alterar essa rotina.

O futebol é um esporte saudável, traz alegria e senso de unidade ao país, mas não deve ser motivo para que funcionários pagos pelos contribuintes deixem suas obrigações de lado. Em que pese a grande importância que o brasileiro dá à Copa do Mundo, uma competição que já foi utilizada politicamente inúmeras vezes e não só no Brasil, cabe a pergunta: é justo servidores serem dispensados do trabalho para assistirem a uma competição esportiva? Um país com problemas tão graves e urgentes pode prescindir de sessões no Congresso? Um pouco de austeridade cairia bem para o poder público, em todas as instâncias.

 

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