Coluna Mulher – 01.06.2025 – ‘Eu sou forte, sou capaz’: a trajetória de superação de Jane Meire

Por Viviane França(*)

‘Eu sou forte, sou capaz’: a trajetória de superação de Jane Meire

Nome: Jane Meire Pereira Silva

Idade: 61 anos

Profissão: Dona de casa e assessora parlamentar

Formação: Ensino Médio completo

Nesta edição da Coluna da Mulher, damos voz a uma história de resistência e superação que representa tantas outras mulheres invisibilizadas, mas que seguem firmes, transformando dor em força. Jane Meire rompeu o ciclo da violência, superou o preconceito e hoje é referência no apoio a outras mulheres em Contagem.

Como você se descreveria? Quais são suas paixões, seus sonhos e o que te move no dia a dia?

Eu me descrevo como uma mulher forte e determinada. Minhas paixões são Deus e minha família. Meu maior sonho é ajudar mais pessoas através do trabalho social. O social me move todo dia, me fortalece, porque fazer o bem é amor, respeito, empatia. Sempre me coloco no lugar do outro: quando ajudo, estou fazendo algo maior que eu.

O que marcou sua infância e juventude? Houve alguma mulher que te inspirou nesse caminho?

Minha infância foi marcada por muito trabalho. Desde pequena, em Araçuaí, interior de Minas, a gente tinha que trabalhar. Não existia proteção para as crianças como hoje, mas isso me fortaleceu. Sempre digo: trabalho não envergonha, fortalece. Aos oito, fui morar com minha irmã, cuidava da casa, dos sobrinhos… E, infelizmente, também sofri abusos. Quando contei, apanhei. Sempre fomos nós, mulheres, as culpadas.

A mulher que mais me inspirou foi minha mãe, Dona Júlia: pequena no tamanho, mas enorme nas atitudes e no coração. Trabalhava sem parar, mesmo quando não tinha quase nada em casa. Se chegasse alguém, ela dividia o que tinha. Foi essa mulher que me ensinou a ser quem sou hoje.

Em algum momento da sua vida, você passou por um relacionamento que te deixou marcas profundas. Como foi perceber que algo não ia bem e que aquilo ultrapassava os limites do respeito?

Fui casada por dez anos e tive uma filha desse relacionamento. Depois que minha filha nasceu, tudo começou: eu cuidava da casa, da filha, e ele chegava tarde, dormia na rua, e quando eu questionava… vinha a violência. Gritos, agressões, humilhações. A gente acha que é normal. Mas não é.

O pior foi quando ele tentou me matar. Se meu sobrinho não estivesse lá, eu não estaria aqui hoje. Ele me atacou pelas costas. Fiquei toda machucada, cheia de hematomas, com feridas no corpo e na alma. Ainda dói lembrar. Tenho cicatrizes físicas e emocionais que carrego até hoje.

O que te deu força para romper com essa realidade e buscar uma nova vida? Teve alguma pessoa ou situação que foi um divisor de águas?

Depois dessa tentativa de feminicídio, tomei a decisão: pedi a separação. Foi rápida. Abri mão até da pensão que ele nunca pagou. Preferi assim, pra ter paz. Minha mãe me criticou muito. Na minha família, não havia mulheres separadas. Fui julgada, virei alvo de comentários. Mas disse: ninguém sabe o que passo dentro da minha casa.

Comecei a trabalhar, fazia faxinas, limpava onde fosse, sempre levando minha filha comigo. E nunca mais parei. Conquistei minha independência. Foi a melhor decisão da minha vida: dar um basta na violência. Eu sou gente, eu posso, eu faço.

Hoje, olhando para tudo que viveu, que conselho você daria para outras mulheres que ainda estão presas em relacionamentos abusivos ou com medo de recomeçar?

Mulher, se ame! Se valorize! Você é forte, capaz de cuidar da sua família e de si mesma. Não aceite ameaças nem promessas falsas. Se ele bateu uma vez, vai bater de novo. Não aceite. Não somos propriedade de homem nenhum.

Hoje, muitas mulheres me ligam pedindo ajuda, querendo desabafar. Já aconselhei várias, algumas queriam até se matar. O medo paralisa, mas eu digo: vocês são mais fortes do que imaginam.

A cada obstáculo que enfrentei, me fortaleci. Cada cicatriz, de agressão, de dor, de alma, me fez ser essa mulher firme. Não deixem o medo prender vocês. Vão viver! Sejam felizes! Nós somos mulheres de atitude.

Jane Meire é a prova viva de que nenhuma mulher deve aceitar viver com medo. Sua história é um grito de liberdade e de sororidade, inspirando tantas outras a romperem ciclos de violência e recomeçarem com dignidade e amor-próprio.

*VIVIANE FRANÇA é Mulher, Advogada, Pesquisadora, Mestre em Direito Público, Especialista em Ciências Penais, autora do livro Democracia Participativa e Planejamento Estatal: o exemplo do plano plurianual no município de Contagem. Secretária de Defesa Social de Contagem/MG, Sócia do França e Grossi Advogados.

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