Por Viviane França (*)
A Guarda Civil de Contagem foi fundada em 2005. Sete Comandantes passaram pela corporação até 2023; todos homens. Naquele ano, porém, a Guarda ganhou uma mulher à frente do comando: Anita de Carvalho, uma profissional que reúne experiência operacional, formação técnica e uma sólida capacidade de gestão e liderança. Nesta edição da Coluna da Mulher, converso com a Comandante Anita sobre sua trajetória, desafios e o papel da presença feminina na segurança pública.
Me conte um pouco da sua história na Guarda de Contagem – Ingressei na Guarda Civil em 2006 motivada pelo desejo de servir Contagem e contribuir para uma segurança pública mais humana e próxima das pessoas. Atuei em diversas frentes, buscando formação contínua e entendendo a Guarda como instrumento de proteção e transformação social. Sou formada em Direito, o que fortalece minha atuação técnica e jurídica no comando. Hoje, ser a primeira mulher a liderar a corporação é uma honra que carrego com orgulho e senso de missão.
Quais foram seus maiores desafios como a primeira mulher a comandar a Guarda Civil de Contagem? Assumir o comando sendo mulher é enfrentar, ao mesmo tempo, o desafio da representatividade e o da legitimidade. Ainda há ambientes em que precisamos reafirmar a competência mesmo quando ela já está demonstrada. Romper paradigmas culturais e institucionais foi marcante, assim como construir diálogo e respeito sem perder a firmeza necessária ao comando. Enfrentei ainda a necessidade de construir espaços de diálogo e respeito, equilibrando a tradição da hierarquia com a inovação da escuta ativa. Transformar mentalidades leva tempo, mas cada conquista abre caminho para outras mulheres que virão.
Como você enxerga a importância da representatividade feminina nas forças de segurança? A representatividade importa muito. Quando uma mulher ocupa um cargo de comando, amplia o campo de possibilidades para outras. Ver uma mulher uniformizada, liderando com firmeza e sensibilidade, inspira meninas, servidoras e mães a acreditarem que seus sonhos são legítimos. Minha trajetória busca mostrar que autoridade e empatia podem caminhar juntas e que a presença feminina fortalece a segurança pública.
Quais avanços você considera mais significativos na Guarda Civil de Contagem? Nossa marca é a proximidade com a comunidade e a integração com outras políticas públicas. Avançamos no uso de inteligência e tecnologia e, sobretudo, na sensibilidade social. Fortalecemos programas como a Patrulha SUS e ampliamos ações de prevenção e mediação de conflitos. Também valorizamos a capacitação e o bem-estar da tropa, com iniciativas internas como o PROVIGOR (Programa de Valorização Integral da Guarda), o que tor-na a corporação mais moderna, eficiente e humana.
O olhar feminino transforma a cultura institucional das forças de segurança? Sem dúvida. O olhar feminino amplia a compreensão sobre prevenção, diálogo e cuidado. Ele não substitui o olhar masculino, mas o complementa. É nessa soma que a instituição se fortalece. A presença das mulheres contribui para uma cultura mais ética, empática e conectada às demandas sociais. Assim, a segurança se torna também preventiva e educativa.
Qual mensagem você deixa para as mulheres que sonham liderar em áreas ainda majoritariamente masculinas? Acreditem no propósito de vocês e preparem-se para ele. O caminho pode ser desafiador, mas cada obstáculo é oportunidade de crescimento. Não esperem o momento ideal: construam-no. Busquem conhecimento, mantenham a ética e não abram mão da própria essência. Liderar como mulher é mostrar que coragem e sensibilidade podem caminhar juntas. Lembrem-se: quando uma mulher avança, abre caminho para muitas outras.
*VIVIANE FRANÇA é Mulher, Advogada, Pesquisadora, Mestre em Direito Público, Especialista em Ciências Penais, autora do livro Democracia Participativa e Planejamento Estatal: o exemplo do plano plurianual no município de Contagem. Secretária de Defesa Social de Contagem/MG, Sócia do França e Grossi Advogados.