Coluna Educação com Luzedna Glece(*) – 05.02.2023 – Lá vêm eles!

Por Aleluia Heringer Lisboa

Diretora de Educação, Relações Institucionais e ASG do Colégio Santo Agostinho

 

Lá vêm eles!

Mesmo sendo uma experiência que se repete todos os anos, os primeiros dias de aula são sempre novos. A cidade volta ao seu movimento se rendendo à escolarização dos tempos sociais. Paira no ar uma poderosa carga de emoções que mistura ansiedade, insegurança, medo, expectativa, euforia e alegria. Desses afetos, ninguém se livra, seja criança, jovem e seus respectivos professores e familiares. Por mais que se tente disfarçar, a verdade é que ninguém tem controle sobre como será esse primeiro e grande encontro e é bom que seja assim. Por mais que esteja tudo planejado, o inesperado é próprio de coletivos quando se encontram.

Novos também os obstáculos específicos de cada idade e com eles a indispensável disposição para o enfrentamento.  A instabilidade que esse breve tempo sugere ajuda a crescer. Onde fica a minha sala? Onde vou me sentar? Aquele colega insuportável está na minha turma? Quem será a professora daquela disciplina? Vou conseguir a vaga na equipe esportiva? Enquanto esse turbilhão de pequenas perguntas está se passando, gerando estranheza e desconforto, o cérebro busca se adaptar acionando, em quem o vive, habilidades adormecidas. Por passarem pelo corpo, na transpiração excessiva, nas mãos frias, na palpitação do coração, essas experiências funcionam como a casca do machucado. O corpo, ao reagir, se protege e fortalece.

Como forma de aceitação e afirmação perante o grupo, busca-se agradar e atrair a atenção do outro, com os mais diversos dispositivos. Investe-se em estojos, mochilas, celular, na boa aparência do pai, na ostentação do carro da mãe (ou o contrário, quando se escondem os dois, pai e mãe), na forma de ajeitar o cabelo e até mesmo na displicência juvenil, assumida e declarada.

Professores e professoras se prepararam para esse encontro e querem acertar. Como seres humanos sensíveis, querem ser ouvidos, têm planos e darão o melhor de si nesse ofício. Esses só querem uma chance para demonstrarem que podem fazer a diferença. Pais e mães ficarão apreensivos, aguardando o retorno dos filhos para então perguntar: e aí? Como foi? É sábio não lançar sobre os filhos as suas próprias inseguranças e ansiedade. Ao ouvi-los, traga perguntas e não respostas e julgamentos; assim, os pais mobilizam capacidades cognitivas para boas tomadas de decisão. Querer ir à frente em tudo, para limpar o caminho, retirar os desgostos e estender o tapete para o príncipe e princesa passarem, não fortalece em nada. Acalme-se: as provações são proporcionais à idade.

Mesmo que não transpareça, tudo é cuidadosamente pensado. No tamanho da couraça do moletom preto, na timidez que chega a embrulhar o estômago, na hostilidade dos gestos que intimida ou no excesso de objetos, há um alguém dizendo: afasta de mim a exposição, o constrangimento e a violência física ou simbólica. No fundo, todos e todas, sem exceção, querem se sentir seguros e acolhidos, só que dizem de formas diferentes. Se é verdade que esse desejo nos iguala, que todos nós nos sentimos inseguros em certa medida, por que não se empenhar em ser cordial, civilizado e acolhedor? De forma consciente e intencional, podemos criar um ambiente seguro para nós mesmos. Isso pode ser ensinado; daí a importância do exemplo dos adultos.

 

(*)Luzedna Glece

Diretora proprietária do Colégio Avançar/CEIAV- CEIAV; Vice-presidente Câmara da Educação Infantil ACIC. Uma das fundadoras do Unidas Transformando Você. Colunista da Educação do Jornal O Folha. Formação: graduada em Pedagogia com licenciatura em Orientação, Supervisão, Séries Iniciais e Administração Escolar; pós-graduada em Psicopedagogia Clínica, Licenciatura em Magistério e Graduação em Neurociência; palestrante de temas voltados às áreas de Educação, Motivação, Relacionamentos Interpessoal e Intrapessoal; estudiosa com trabalhos reconhecidos sobre o tema Bullying; experiências profissionais: professora das séries iniciais e do curso de pedagogia, coordenadora, orientadora, diretora de redes particulares de ensino, supervisora, orientadora diretora regional do Sistema FIEMG.

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