Especialista em Relações com a Comunidade trocou o emprego celetista para fundar sua própria empresa. E para atuar com mais coerência de princípios, aderiu ao Pacto Global da ONU. Sua primeira ação concreta será a realização de um diagnóstico socioeconômico e de pessoas em situação de rua na região Nordeste de Belo Horizonte, como forma de contribuir para os esforços mundiais relacionados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nº 1, de erradicação da pobreza
Por Carolina Brauer
A coragem para empreender e a visão humanizada dos negócios levou um comunicador em carreira promissora como empregado de agências e corporações a fundar sua consultoria própria de Relações com a Comunidade: a FOCO Inteligência de Relacionamento, especializada na proposição de estratégias que visam à melhoria das interações sociais entre empresas e populações vizinhas a empreendimentos minerários, de energia e de logística.
Seu fundador é Fabrício Soares de Souza, bacharel em Relações Públicas, pós-graduado duas vezes nas áreas de Gestão de Projetos e Negócios, professor universitário e especialista em Comunicação e Relacionamento Institucional. Por meio de técnicas e ferramentas de diálogo social participativo, a FOCO desvenda a origem de tensões instaladas nos territórios, cria e executa soluções em comunicação sob medida. Esse trabalho é balizado por diretrizes socioambientais nacionais e internacionais, como Environmental, Social and Governance (ESG).
As consultorias da FOCO indicam as melhores formas para a geração de valor compartilhado, que acontece quando as corporações buscam seus objetivos econômicos e, simultaneamente, aprimoram as condições sociais e econômicas das localidades em que operam. Nesse sentido, o trabalho prestado pela FOCO está relacionado ao conceito de desenvolvimento sustentável da ONU, cunhado em 1987, em suas três dimensões: social, econômica e ambiental.
Agora, o empreendimento prepara-se para ir além, tornando-se um protagonista dos esforços corporativos por mais responsabilidade social: a FOCO encontra-se em franco processo de adesão ao Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) e realizará, por conta própria, um cadastro socioeconômico de pessoas em situação de rua da região Nordeste da capital mineira. A escolha do local se deu em função da existência de um grande contingente de pessoas que sobrevive, à margem do progresso, em locais como a Cachoeirinha, a Lagoinha e o Palmares, situados nessa região.
A iniciativa está relacionada à consecução do principal Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, o de nº 1, “Erradicação da pobreza”. Quem adere ao Pacto também assume a responsabilidade de contribuir para o alcance dos ODS.
O mapeamento terá início já a partir do segundo semestre deste ano. A metodologia utilizada será a mesma dos serviços de Gestão e Comunicação de Relacionamento prestados pela FOCO nos territórios: escuta ativa, coleta, consolidação e organização dos dados, com georreferenciamento de todo o processo. Os indicadores gerados poderão ser úteis para a tomada de decisão em iniciativas para o combate à pobreza nessa região encabeçadas por outros atores sociais, em projetos públicos ou privados.
Pacto Global é a maior iniciativa sustentável corporativa do mundo
O Pacto Global da ONU é hoje a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo. Não é um instrumento regulatório, ou um código de conduta, mas uma iniciativa de adesão voluntária.
Desde que foi implementado, no ano 2000, o Pacto vem reunindo milhares de adeptos: atualmente, conta com a participação de 16 mil instituições, entre empresas e organizações, distribuídas em 70 redes locais, de 160 países (clique AQUI e conheça os Dez Princípios do Pacto Global da ONU).
Experiência prévia, capacitação constante
Quando as condições necessárias para que os negócios prosperem não são reunidas, um terço dos empreendimentos fecha as portas em seus primeiros anos, é o que mostra um estudo realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae): em 2022, 26,6% das pequenas empresas abertas no setor de serviço não sobreviveram aos seus cinco primeiros anos de funcionamento (informação disponível AQUI). O Sebrae elenca que faltaram a esses desprecavidos o cultivo da disciplina, a disposição para seguir estudando e conhecimento de mercado, de estratégias de marketing e de técnicas de mensuração de resultados.
Mas esse não foi o caso do fundador da FOCO, que se preparou muito antes de se tornar dono do próprio negócio. Durante 14 anos, Fabrício adquiriu experiência trabalhando para empresas como “Vale”, “Ecom Grupo de Estudos em Comunicação”, “Santa Barbara Engenharia S/A”, “Ideia Comunicação Empresarial”, “Árvore Gestão de Relacionamento” e até no “Centro Universitário Una”, onde foi professor da graduação. Chegou inclusive a ser conselheiro-suplente no “Conselho Regional de Profissionais de Relações Públicas”.
Nessa jornada, exerceu cargos como analista, gestor e líder na área de Relações com a Comunidade, atuando na gestão de processos e pessoas, e ascendia hierarquicamente a cada novo emprego. Especializou-se na construção de indicadores e em Tecnologias da Informação (TIC), aprofundou conhecimentos sobre diretrizes socioambientais de instituições supranacionais e sobre o processo de licenciamento ambiental brasileiro, manteve-se em constante capacitação educacional e marcou presença em vários seminários e congressos do ramo.
Só uma coisa não mudou nesse período de crescimento integral: o otimismo em relação à vida, a crença no próprio potencial e a disposição para trabalhar duro e se manter em constante formação profissional.
Foi então que, em 2018, a partir de uma folha em branco e com muitas ideias na cabeça, seguro de que havia chegado o momento certo, ele fundou a FOCO. “Tive a coragem de dar vida a um sonho e assumi os riscos inerentes à minha decisão. Acredito que meu próprio negócio vai prosperar cada vez mais porque confio no potencial da equipe de colaboradores e consultores e na capacidade da FOCO de gerar valor compartilhado à todo cadeia de prestação de serviços”, resume Fabrício.
Stakeholders e a sobrevivência das empresas ao longo do tempo
Obter a chamada “Licença Social para Operar (LSO)”, termo relacionado ao nível de aceitação dos empreendimentos pelas comunidades, é o fator-chave para a legitimação dos negócios junto à sociedade, para a retenção e atração de clientes e investidores e, por conseguinte, também para a sustentação do valor de mercado das organizações. A LSO não está descrita em lei, mas é o agente primordial para a longevidade dos negócios.
Fabrício aprendeu essa lição não só com seus próprios estudos e prática profissional: o diretor-executivo da Ferreira Rocha (FR), cliente da FOCO, Delfim Rocha, é um pesquisador sobre esse fenômeno e advoga em seus canais digitais, geridos pela FOCO, que, sem a LSO, as empresas correm sérios riscos de terem suas atividades inviabilizadas.
“A experiência dele como estudioso e como gestor socioambiental soma-se à nossa percepção. Estamos convencidos de que o principal fator para o sucesso ou o fracasso das organizações, no médio e longo prazo, é a qualidade das interações com as partes interessadas”, adverte Fabrício.
FOCO e FR trabalham juntas em diversos projetos de relacionamento com comunidades, diagnósticos e pesquisas avaliativas. Em uma dessas empreitadas, no estado do Ceará, no ano de 2020, montaram uma parceria que identificou uma demanda social comunitária diferente dos interesses normalmente pleiteados diante da presença de grandes empreendimentos nos territórios, como geração de emprego e renda.
As estratégias comunicacionais mobilizadas apontaram para a necessidade de um investimento social muito peculiar, só passível de identificação graças às técnicas de pesquisa e diagnóstico social: em lugar de pedir trabalho, estudo, casas, terras, lavouras ou animais, a comunidade pôde verbalizar que seu principal interesse era de que fossem feitos investimentos em um hospital regional. Isto mesmo: o que essas pessoas mais queriam era poder contar com um bom equipamento de saúde no território.
A unidade de saúde atende a aproximadamente cinco mil pessoas por mês, incluindo pacientes da região e de municípios vizinhos. Os investimentos feitos pelo empreendimento proporcionaram uma economia de R$ 9 mil mensais à gestão da estrutura hospitalar.
“Sentimo-nos realizados por ver materializada uma das recomendações de nosso trabalho de avaliação de alternativas de investimentos socioambientais a partir do engajamento de stakeholders”, comemora Delfim Rocha.
“A descoberta sobre o que mais aguardavam surgiu de situações dialógicas. Nossos trabalhos possibilitaram ao cliente fazer o investimento social mais aguardado pela comunidade, em vez de mobilizar recursos para iniciativas sociais impostas gerencialmente, que poderiam causar, inclusive, danos de reputação e perdas financeiras. Um jogo social de ganha-ganha, só possível pela escuta ativa”, pontua Fabrício.
O líder da FOCO diz-se gratificado em cada oportunidade em que os anseios das comunidades levantados por seus cadastros socioeconômicos são considerados pelos contratantes: “Toda vez em que isso acontece, eu me sinto um ser humano mais pleno. Normalmente, as pessoas que dividem território com os empreendimentos são populações vulneráveis, ribeirinhos, quilombolas, indígenas, povos originários. Acredito no ser humano e no relacionamento equilibrado como base para uma vida plena e de realizações pessoais e profissionais. Compartilhar valores, boas práticas e técnicas para aprimorar a comunicação e o relacionamento entre pessoas e marcas é o meu propósito”.
Novos tempos, empresas mais responsáveis
O estilo de vida moderno, tecnológico, predominantemente urbano e capitalista é mantido graças à atividade minerária, à geração de energia elétrica em larga escala e à outras atividades empresariais que têm potencial para causar impactos profundos na paisagem, nos ecossistemas e nos modos de vida das pessoas que dividem o território com esses empreendimentos. Grandes players que extraem recursos naturais são a base material para o estágio de pós-modernidade em que se encontra o mundo hegemônico.
A pergunta de fundo, então, é a seguinte: como conciliar sustentabilidade com a vida no século XXI? As respostas estão sendo construídas coletivamente, e adoção de posturas mais socio-responsáveis é cada vez mais uma questão nevrálgica para a continuidade dos negócios. E tudo começa na relação com os stakeholders.
“O modelo de negócios dos grandes empreendimentos precisa ser revisto e adaptado, para garantir que as comunidades afetadas pelas atividades empresariais tenham acesso aos benefícios sociais e econômicos gerados. É preciso que as empresas repensem a forma sobre como criam e compartilham valor com seus stakeholders”, defende Fabrício.
Stakeholder é o conceito cunhado pelo filósofo Robert Edward Freeman (1984) para designar qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou é afetado pelas organizações. Para esse filósofo, as empresas não devem ter somente o lucro como objetivo: interesses sociais também devem integrar suas metas gerenciais. Fabrício comunga dessa visão, mas faz uma contribuição ao conceito original, integrando a ele as relações humanas que prescindem da proximidade física dos interlocutores e ocorrem de forma mediada pela internet. E está convicto de que o habitat corporativo já está passando por mudanças de paradigmas para que suas operações acontecem de maneira mais condizente com as demandas urgentes planetárias.
Para Fabrício, o conceito de comunidade é um pouco mais amplo. “Entendemos que comunidades é todo o grupo de pessoas que possuem poder de voz, que se unem em torno de interesses comuns, compartilham o mesmo território físico ou virtual e impactam ou são impactados por uma marca”, acrescenta o CEO.
Mas já é possível notar mudanças dos processos de tomada de decisão de empresas. Tanto porque isso é importante na obtenção dos resultados financeiros, uma vez que as cobranças de mais participação social e responsabilização sobre as corporações são crescentes, quanto porque desconsiderar a sustentabilidade empresarial pode comprometer a vida de todos, inclusive acionistas. Caminha a passos constantes um processo de modificação da atuação das companhias, que, se forem comandadas por dirigentes com visão de longo alcance, logo vão integrar a “indústria verde”.
“Estamos percebemos que, além de cumprir com a lei, empresas de setores como mineração, energia e logística vêm se adequando a conceitos, diretrizes, princípios e boas práticas sustentáveis. Estamos assistindo a um processo de evolução. O futuro promete”, finaliza Fabrício.